Se não te respeitares… quem respeitará?
- Patrícia Loução Rita
- 10 de fev. de 2019
- 6 min de leitura
Atualizado: 13 de fev. de 2019

Conhecem a expressão “pôr-se a jeito”?
Naturalmente, que esta expressão pode ser usada, com diversos sentidos, mas é comum usar-se quando nos referimos a alguém, que alimenta e permite determinada situação…
Em muitas destas situações, as pessoas nem têm consciência, de que o estão a fazer, mas sem se aperceberam, criaram condições para que se instalasse determinado padrão de funcionamento, entre elas e outra/s pessoa/s e posteriormente fizeram e fazem, a manutenção dessas condições… e assim, um determinado comportamento vai-se mantendo e proliferando, sem perceberem que estão a ser parte da “engrenagem” e que são, por isso, corresponsáveis por essa situação/funcionamento/comportamento.
O problema (ou problemas) surge, quando essa pessoa que “se pôs a jeito”, se começa a sentir mal com a situação, se sente incomodada, prejudicada e se apercebe de que aquele tipo de funcionamento, aquela habitual forma de interação, não lhe agrada, não é benéfica e é negativa para si, e/ou para outras partes envolvidas.
E normalmente, quando a pessoa se começa a sentir incomodada, a reação mais frequente é queixar-se da “outra pessoa”, esquecendo-se da sua parte de responsabilidade, no instalar e manter dessa mesma situação!...
E até a podemos ouvir dizer: ”ok, eu admito que no início até tive alguma culpa (quando a questão que se coloca não é de culpa, mas de responsabilidade) de deixar, que se fizesse assim, mas agora, a pessoa já devia perceber, que já está a abusar!”
😊 Pois é… a outra pessoa podia perceber que está a abusar!
Pois podia!
E isso é da responsabilidade dela. Essa é a parte dela e só lhe cabe a ela.
Mas como cada um só pode fazer a sua parte (já dizia o Beija-Flor 😉), eu escolho fazer a minha parte e é só essa a minha responsabilidade. A parte do outro, é escolha do outro.
O que, neste caso seria…: Se sente que a pessoa está a abusar e reconhece que, de início permitiu e atualmente continua a permitir (nem que seja por omissão), que continue a abusar, então esse seu “permitir” está a “alimentar”, está a fazer a manutenção desse padrão de funcionamento… logo, só se mudar algo no seu comportamento, deixando de permitir (de forma direta, ou indireta, depende dos casos), é que retira a sua participação nesse padrão, introduz algum fator de mudança e interrompe esse ciclo.
É claro que não pode controlar totalmente os resultados, pois você é apenas uma das partes do processo, mas pode responsabilizar-se pelas suas escolhas, pela sua parte e assumir a sua mudança… e verá que igual, não fica. 😊
Posso exemplificar genericamente com duas situações reais, de que já tive conhecimento:
Imaginemos alguém que seja muito disponível, do ponto de vista financeiro, sempre disposto a pagar todas as despesas, sempre disponível para arcar com todos os custos e também em decidir, o que deve ser comprado… essa pessoa cria, desde o início, esse hábito nos outros com quem divide esse contexto, assumindo sempre a escolha do que comprar e as despesas inerentes.
Passado algum tempo, começa a sentir-se incomodada e a lamentar-se de que “estão a abusar, já deviam ter consciência e etc…”
E é claro, que poderiam ter consciência, não estamos aqui a defender nenhuma das partes… poderia, ou não ter consciência, essa seria uma das partes… não estamos a tentar classificar de certo, ou errado… apenas analisamos a responsabilidade do comportamento, que cada um escolhe adotar…
Mas, por outro lado, a pessoa que optou por ser sempre ela a decidir o que comprar e a pagar todas as despesas, também poderia colocar-se em causa, e questionar-se “porque será, que quis ser sempre ela a escolher o que comprar e a pagar?”
Será por necessidade de controlar tudo, decidir tudo e sentir-se detentora desse poder? E por outro lado, será que tinha imensa necessidade, de ficar bem vista e ser aceite e tida como muito generosa?” (ou outro motivo qualquer…)
E atualmente, porque escolhe continuar a adotar o mesmo tipo de comportamento e alimentar esse “formato”?
A cada dia, a cada hora, a cada instante, tem sempre a oportunidade de escolher fazer diferente! 😉
Está nas suas mãos. 😊
Já tive conhecimento de outra situação real, em que alguém, gradualmente e alegando diversos motivos, explícitos ou implícitos, foi criando um tipo de situação em casa e ao seu redor, em que, fazendo-se de “incapaz, doente, frágil, ou insuficiente”, condiciona a que todos funcionam como seus “criados” e “pajens”!
(E naturalmente, acomodou-se tanto a essa situação, sem nunca se questionar, que com qualquer outra pessoa estranha, tentará sempre instituir esse mesmo funcionamento - caso lho permitissem, claro 😉)!
Escusado será dizer que, estas pessoas só servem de “criados e pajens”, porque se “põem a jeito”, ou seja, porque o permitem e acatam essa “imposição latente” e às vezes claramente explícita e expressa!
E por vezes, podem até lamentar-se entre si (ou apenas pensar): “que chata que esta pessoa é, que aborrecida e maçadora, que peso, que emplastro, que inútil… ela devia ter noção e ter mais respeito, consideração e sobretudo capacidade para assumir a sua vida, comportando-se com alguma dignidade…”
Mas apesar de se sentirem subjugados e pressionados, continuam a permitir, alimentando este padrão disfuncional e perpetuando todo este ambiente perturbado, fazendo, não só com que sintam, cada vez mais a “obrigação” de carregar este “emplastro”, como ainda estão a prejudicar a pessoa, contribuindo para que seja, cada vez mais desresponsabilizada, inútil e vazia…
Mas será que estas pessoas que são, reiteradamente, tratadas como ”pajens” ( de forma muito implícita e subtil, ao ponto de, muitas vezes, nem os próprios terem consciência… e sendo hostilizados caso ousem recusar-se, ou esquecer-se de o ser…) já se questionaram, porque terão tanta necessidade de se subjugarem e deixar manipular?
De que terão medo?
Porque será que se desrespeitam tanto e têm em tão baixa consideração?
E mais uma vez, cada parte, tem apenas a responsabilidade da escolha que lhe cabe (incluindo a escolha de se questionar, ou não). 😊
Isto é muito simples, não é nada de complexo… mas é claro que não é fácil…
E para terminar, pois esta reflexão de hoje já vai bem longa 😊, partilho um exemplo, que se passou comigo (um entre muitos, pois também já me “pus a jeito”, várias vezes… 😉 é humano… o que importa é tomar consciência, escolher e agir!):
Há algum tempo, numa determinada situação relativa a alguém que conheço, decidi assumir a responsabilidade de tratar de “umas papeladas e assuntos” relativos a essa pessoa… alegando, para mim própria, que iria ajudar (o que não quer dizer que a pessoa não precisasse de ajuda. Mas ajudar, não é fazer pelo outro, colocando-nos em 2º plano).
A situação iria arrastar-se vários meses e eu começava a sentir uma grande pressão… a sentir que não tinha tanta disponibilidade para os meus assuntos e que, por vezes, já estava a negligenciar e a descurar questões minhas, por essa “obrigação”, de tratar de questões de outrem… No fundo estava a sentir-me desrespeitada e quase sem me aperceber, a pensar: “Mas será que a pessoa não percebe que já estava na hora de tratar sozinha? Já ajudei bastante no início, será que não chega? Será possível que não se questione se isto estará a “atrapalhar” a minha vida?”
😊 Sim, confesso que isto me passou pela cabeça, por breves instantes, breves mesmo 😉 (mesmo já sabendo esta teoria 😊)…
E de seguida percebi: “Mas a 1ª e grande responsabilidade por ter escolhido assumir esta “obrigação” foi minha (e ninguém mo pediu, mas mesmo que tivessem pedido, seria minha a responsabilidade de ter aceitado esse pedido!) e a responsabilidade de estar a escolher manter esta “função” é minha… e principalmente, a responsabilidade de estar a desrespeitar as minhas necessidades, o meu tempo e consequentemente, a minha Vida, é minha!!!
E ninguém irá respeitar as minhas necessidades, o tempo que preciso para mim, se eu não o fizer! (e eu já sabia disto há tanto tempo… mas a nossa mente prega-nos cada partida 😊)
E depois de se tomar consciência, é bem mais urgente e sentida como “mais do que legítima”, a necessidade de mudar… assumir uma posição diferente, para obter resultados diferentes!...
E assim fiz.
Passei todas as ditas ”papeladas e questões” para “as mãos respetivas”, dizendo que se fosse necessário mais alguma ajuda, eu estaria disponível (o que era verdade, pois também poderia não estar e aí, não o teria dito… estaria disponível para outra ajuda pontual, que se verificasse REALMENTE necessária, mas não para continuar a “fazer pelo outro”!), delegando a função que não era minha e que eu já não me sentia disponível, para desempenhar.
Lições que retirei, neste meu caso concreto:
1ª Só devo assumir responsabilidades que EU considere que me pertencem de facto e/ou que EU considere que devo assumir.
2ªSó devo assumi-las “até onde” me fizer sentido A MIM, independentemente do que outros possam achar.
3ª Devo respeitar e priorizar as minhas necessidades, pois só essas são da minha exclusiva responsabilidade e ninguém o fará por mim.
e 4ª Excesso de ajuda, não é ajuda!... É desresponsabilizar o outro, sobrepormo-nos ao outro, diminui-lo, tratá-lo como incapaz e anulá-lo.
Porque, ajudar “não é dar o peixe, mas ensinar a pescar”. 😊 Já todos ouvimos isto…
Libertem-se de prisões, de exigências e das “cargas pesadas” que escolheram “carregar às costas”.
… porque não ajudarás ninguém, se não cuidares de ti e da tua Vida!
É cuidando de ti, respeitando-te e não te colocando “a jeito”, que poderás inspirar outros a perceber que, priorizarem-se e respeitarem-se é da sua exclusiva Responsabilidade e não faz sentido esperar que outros o façam por nós! 😉
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