Aprender a pensar pela própria cabeça…
- Patrícia Loução Rita
- 18 de mar. de 2019
- 6 min de leitura

Esta questão parece muito básica...
E é muito básica!
É, literalmente, uma questão de base. 😊
Está na base das nossas potencialidades e é até mesmo inata… “aprender a pensar pela própria cabeça”, é uma potencialidade inata em todos nós, algo que nasce connosco,… mas que depende de cada um, querer fazer uso desta potencialidade… ou não.
E isto começa de pequenino. 😊
Começa de pequenino, mas não termina aí, nem se define, de forma vinculativa, aí.
A menos que queiramos que assim seja… a menos que queiramos que, a forma como nos condicionem, essa nossa potencialidade inata, de “pensar pela própria cabeça”, fique definitivamente vinculada, às “modalidades” e “condicionalismos”, que nos incutem “de pequeninos”… passando por isso, a anular essa capacidade inata, de “pensar pela própria cabeça” e adquirindo, como se de nossa se tratasse, de uma forma militante, a maneira de pensar que nos incutem e a mentalidade que sempre nos “venderam” como “A Certa”.
Dependerá do que Cada Um quiser escolher.
Conscientemente, ou não.
Ou seja, é natural que todos nós, “desde pequeninos”, comecemos por “pensar”, “acreditar”, “concordar” e ver como “o normal”, as mentalidades e o contexto, em que fomos crescendo e a realidade com que sempre tivemos contacto direto.
Na infância, é muito natural que as crianças achem que a realidade que as envolve é “A Realidade”… que não existe outra e que aquilo é que faz sentido… sem se questionarem muito, sobre o que vivem e sobre os “certos” e “errados”, “adequados” e “desadequados”, que lhes vão mostrando. como sendo “os verdadeiros”…
Mais tarde, na adolescência, é também muito natural (mas, infelizmente, nem sempre acontece), que os miúdos comecem a questionar o que lhes querem “vender”, como verdades aceitáveis, irrecusáveis e incontestáveis… é natural que comecem a contestar, a apresentar outras perspetivas e a colocar em causa as “mentalidades vigentes”, aferindo “pela sua própria cabeça”, se aquilo que sempre lhes foi apresentado como “verdade lógica”, faz assim tanto sentido e é assim tão irrefutável…
Pois é… isto é natural, mas nem sempre acontece… e nem sempre acontece, por 2 motivos principais…
Um tem a ver com características individuais de cada miúdo… de serem mais autónomos e independentes, gostarem de descobrir, de arriscar, experimentar e serem confiantes das suas capacidades e por isso, fazerem uso delas, ou nem tanto…
Outro, tem a ver com a estimulação (ou falta dela), que é dada em casa e isto já depende diretamente das características individuais dos cuidadores… dos adultos que acompanham o crescimento destes miúdos, estimulando o seu desenvolvimento e autonomia (incluindo autonomia de “aprender a pensar pela própria cabeça”), ou limitando e condicionando esta capacidade, numa tentativa ilusória de manter o “poder sobre as mentalidades” e conseguir controlar todo o contexto (visando salvaguardar um “pseudo equilíbrio” conhecido e seguro, mesmo que desadequado e doentio).
Ora naturalmente, que esta necessidade destes adultos, de manter este controlo, deriva diretamente duma enorme insegurança e medo das suas crenças rígidas e do seu “ambiente seguro” ser questionado e posto a descoberto…
É claro que isto desenvolve-se, maioritariamente de forma muito subtil e mascarada de “valores e princípios” e de “boa educação”.
São habitualmente, famílias em que se confunde respeito com submissão… em que é difundida a noção (explícita e implicitamente) de que, ter uma opinião oposta e expressá-la abertamente, é falta de respeito e é falta de educação!
Nestas famílias e nesta questão em particular, não é clara a distinção entre a “forma” e o “conteúdo”. Não está clara a diferença entre a “forma” como se diz e o “conteúdo”, ou seja “o” que se diz… não está claro que, aqui sim, é que reside a fronteira entre o que é a dita “falta de respeito” e o que é “liberdade de expressão e de opinião” (mas quem tem medo de ser posto em causa e de perder poder, prefere confundir isto tudo e convencer todos, de que, dizer abertamente “discordo totalmente disso”, é “falta de respeito”. E o mais curioso, é que há quem se deixe convencer disto! 😊 Porque será? 😉).
Cria-se um ambiente, em que os miúdos não sentem que podem ter opinião diferente dos pais, contrária às “ideias vigentes” e expressá-la livremente… como que lhes é imposta uma forma de pensar e subtilmente, passada a ideia de que não podem “ousar” questionar, ou criticar aquelas “verdades”.
E como já referi, pais que fazem esta imposição latente, são pais inseguros, que não sabem lidar com a possibilidade de serem questionados e que sentem um grande desconforto com a ideia de poderem perder o “poder”, que ilusoriamente se convencem que têm, com esta “manipulação de mentalidades”…. (Porque será? 😉)
E felizmente (digo eu), existe uma forte possibilidade de, mais cedo ou mais tarde, isto lhes “escapar das mãos”, pois a esmagadora maioria das crianças e adolescentes, na nossa sociedade, não vivem eternamente “enclausuradas” na “redoma” da família (felizmente) e vão começando a ter contacto com outros “modelos” de famílias, com outras realidades e com outras abordagens… e começam a questionar-se e a pôr em causa essas “pseudo verdades”, que sempre lhes quiseram impor… mesmo que inconscientemente (nem que seja já depois de adultos), começam a duvidar se aquilo fará assim tanto sentido, se é assim tão correto e se espelha respeito e consideração, pela individualidade de cada um…
É claro que não estou aqui a fazer a apologia, de ausência de regras e limites, nem de total liberdade de ação dos miúdos. Nada disso!
Mas uma coisa são as regras instituídas em casa e outra coisa, bem distinta, é a possibilidade de se conhecerem diferentes perspetivas e ir “treinando” a possibilidade de aferir e conhecer diversas “realidades”, “pela própria cabeça”.
Já assisti a situações, em que os miúdos, enquanto estão na presença dos pais, estão “meio que encolhidos”, como que se não pudessem contar tudo, ou dizer abertamente “eu não acho isso”, o que me levanta alguma preocupação, logo à partida…
Tal como já assisti a situações bem mais leves e saudáveis, em que os miúdos, ainda na presença dos pais e em reação direta ao que aqueles acabam de referir, dizem livremente “eu não acho nada disso”, “eu não acho que seja assim”, “eu acho isto e aquilo…” e esta simples reação, deixa-me logo uma sensação positiva, de que aqueles miúdos não têm medo de discordar daqueles pais e se sentem livres para se expressar. 😊 (Adoro famílias assim 😊)
Ora isto, já na idade adulta, tem o seu reflexo.
Por mais estranho que parece, conheço filhos adultos, pessoas inteligentes, diferenciadas, informadas, com “suposta” capacidade de “pensar pela própria cabeça”, mas que não o fazem (sobretudo em relação a algumas temáticas familiares, que parecem tabus)… parece que têm uma “lavagem cerebral”, desde tenra idade e que não adquiriram a liberdade para questionarem e expressarem divergência, em relação a determinados temas!
No fundo, parece haver uma conjugação dos tais “2 motivos principais” – pais que sempre tentaram controlar e limitar, eventuais ideias dissidentes e miúdos com dificuldade de se libertarem e fazerem uso das suas capacidades para “pensar pela própria cabeça”… mas o pior de tudo, é que parece que estes “miúdos”, se tornaram “graúdos” com essa mesma subjugação (convencidos de que é uma questão de “respeito”) e hoje são adultos, que continuam a ter medo de exercer o seu direito de questionar e discordar abertamente das mentalidades de origem… e ainda nem perceberam, que estão permanentemente condicionados por essa “lavagem cerebral”!...
Aos pais que, mesmo sem se aperceberem, estabelecem como “uma questão de respeito”, uma “proibição tácita” de serem contestados, questionados, ou alvo de divergência declarada, digo que - uma tão convicta necessidade de “salvaguardar” e manter inquestionado e inquestionável, um determinado padrão de funcionamento, oculta provavelmente algo de estranho, pouco saudável (de que, lá no fundo, não se orgulham muito) e muito inseguro, nesse tal “padrão de funcionamento”…
Aos filhos (já depois de adolescentes e adultos) que continuam a não reconhecer o seu direito de “pensar pela própria cabeça” e pôr em causa, o que quer que seja, que lhes queiram impor como “normal” e “aceitável”, considerando que poderiam ser vistos como “mal educados” digo que – amar profundamente os pais, não implica estar de acordo com tudo o que digam e façam… ou dito de outra forma, discordar, divergir, fazer diferente, não aceitar imposições e dizê-lo livre e abertamente, não é sinónimo de “falta de respeito”, nem de “falta de educação”, por mais que lhes tenham incutido esta ideia…
Muito pelo contrário!
Discordar, expressando a nossa Verdade é, não só, respeitarmo-nos a nós próprios, como também respeitar quem amamos, pois não estamos a alimentar hipocrisias, a “fingir que achamos muito bem” e a “esconder” a nossa verdadeira opinião, só para permitir que o/s outro/s ache/m que pensamos igual a ele/s e concordamos com tudo…
Não tenham medo de Libertar, nem tenham medo de Ser Livres… A Liberdade não ofende, não desrespeita e não separa…
A Liberdade compartilha-se, autonomiza, responsabiliza e impulsiona... para a Vida!😉
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